ANÁLISE: Os vencedores da era pós-pandemia
A crise gerada pelo novo coronavírus (COVID-19) abalou alguns setores e acelerou o crescimento de outros. Quebra de paradigmas, mudanças no comportamento da população, provocadas pelas medidas de isolamento social, e a aceleração da transformação digital nas empresas provocaram a revisão de planos e o surgimento de inovações.
Para os investidores, a oportunidade está no financiamento de novos projetos em nichos que estão e continuarão em ascensão no pós-pandemia. Confira a análise:
Imobiliário absorve transformações
A descoberta durante a crise de que o home office funciona bem já dá sinais de que essa mudança veio para ficar. Companhias como Facebook, JP Morgan Chase e Morgan Stanley, para citar apenas algumas, concluíram que deverão adotar esse regime como prática permanente para parte de seus funcionários no pós-pandemia. O mercado imobiliário corporativo deve absorver esse impacto – seja porque mesmo com menos funcionários permanecerá a necessidade de espaço físico devido às recomendações das autoridades de saúde (a exemplo do modelo “Six Feet”) ou porque o espaço “liberado” seria ocupado pela demanda natural do mercado, especialmente para endereços em localizações nobres.
O segmento imobiliário residencial deve se valorizar cada vez mais na carteira dos investidores. O déficit habitacional no País continuará impulsionando a busca do consumidor pela casa própria no médio e longo prazo. Contudo, a perspectiva do home office permanente gerou algumas mudanças no perfil do lar desejado: residências mais espaçosas e equipadas com facilidades como escritórios e localizadas em cidades que ofereçam melhor qualidade de vida – uma vez que a necessidade de deslocamento à empresa será reduzida. Dados do aplicativo de busca por imóveis Newcore, por exemplo, apontam que os paulistanos mudaram seu perfil de pesquisa durante a crise: a procura por residências em distritos próximos a São Paulo, Granja Viana, região do ABCD, Alphaville e litoral ganhou força, enquanto houve queda para bairros centrais e nobres na capital. Tal fenômeno ocorre em outros estados. Boa notícia para o segmento de loteamentos.
As incorporadoras já calculam o impacto dessa mudança para o pós-pandemia. O crescimento dos bairros planejados e a revisão de projetos imobiliários estão entre as tendências apontadas. Salas de trabalho individual em vez de espaços compartilhados (coworking), armários para delivery e aeroporto para drones são inovações apontadas por empresários.
Logística e galpões em alta
A expansão das vendas online e a crescente digitalização colocam a indústria de entregas em um novo patamar de importância no pós-pandemia. Refletindo a mudança de hábitos do consumidor, as vendas online cresceram 40% e houve aumento médio de 400% no número de lojas que abriram comércio eletrônico por mês durante a quarentena, segundo a associação do setor de e-commerce, ABComm. Redes de varejo aceleraram o investimento em suas plataformas digitais e até pequenos negócios apostaram no delivery. Com isso, a demanda por distribuição e armazenagem cresceu pelo menos dois dígitos. Inclusive, um dos maiores marketplaces em operação no País, anunciou que manterá os investimentos bilionários no Brasil em 2020, focando principalmente nas operações de logística. A perspectiva é promissora para as propriedades logísticas dentro ou próximas a grandes centros.
Até o segmento de shopping centers, considerado um dos “perdedores” durante a crise, poderá se beneficiar do crescimento da demanda logística. Com espaço e boa localização nos grandes centros urbanos, esses empreendimentos poderão se transformar em “hubs de consumo” e distribuidores para microrregiões. Um reflexo disso é o acordo firmado no dia 03 de junho entre um gigante do e-commerce, uma grande administradora de shoppings e uma plataforma de entregas, que permitirá a comercialização dos produtos das lojas nos sites. Os clientes, por sua vez, passarão a contar com os serviços de Click and Collect Now (sortimento e estoque de cada loja) e de Ship From Store (entrega a partir da loja no mesmo dia no endereço desejado).
Varejo alimentar sai fortalecido
Considerados essenciais, supermercados e hipermercados passaram ilesos às restrições impostas pelos governos durante a pandemia. Inclusive, beneficiaram-se com o aumento da demanda do consumidor para a formação de estoques em casa. Com isso, as vendas do varejo alimentar cresceram 20% durante a pandemia, informa a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia). Respondendo por 37% das receitas varejistas no Brasil, alimentos e medicamentos também sofreram menos perdas em termos de faturamento no comparativo com 2019, destaca estudo da CNC.
Além disso, as companhias intensificaram seus investimentos em e-commerce, apostando no consumidor que busca praticidade e conveniência. E o esforço deu resultados. Dois titãs dos supermercados no Brasil informaram que praticamente dobraram ou triplicaram as vendas pela internet no primeiro trimestre. Segundo a ABComm, os seis setores que mais cresceram em e-commerce foram Calçados (99,44%), Bebidas (78,90%), Eletrodomésticos (49,29%), Autopeças (44,64%) e Supermercado (38,92%).
A locomotiva do Agronegócio
Com produção alheia às restrições da pandemia e favorecido pela alta no câmbio e exportações, o PIB do agronegócio subiu mesmo no pior momento da crise. A safra recorde de soja e a boa colheita de outras commodities foram impulsionadores da expansão de 1,9% no primeiro trimestre, informa a CNA. A expectativa da Confederação é que o resultado do segundo trimestre do ano será ainda melhor, alcançando crescimento de 2,5% no PIB setorial — patamar também esperado para o fechamento do ano, conforme projeções do IBGE e da Conab.
Assim como outras indústrias estão revisando seu planejamento pós-Covid-19 para evitarem a concentração de fornecedores em um único país, como a China, o mesmo alerta serve para o agronegócio, informa estudo da PwC. A Big4 recomenda ao setor a elaboração de um plano de contingência visando a diversificação de fornecedores e mercados de destino para as exportações.
Oportunidade é se posicionar antes
O mercado de capitais deverá ocupar relevante espaço para o financiamento de novos e bons projetos, neste momento em que os bancos estão ainda mais avessos ao risco e o crédito liberado pelo Governo não está chegando a muitos empreendedores na ponta.
“Diferente dos bancos, que têm uma visão setorial, analisamos projeto a projeto e suas garantias individualmente. Assim, os investidores de renda fixa têm a oportunidade de financiar novos e bons empreendimentos que poderão se beneficiar do crescimento pós-pandemia”, observa Maximiliano Marques, diretor de distribuição da True Securitizadora. “Temos muitas oportunidades nesses setores para aqueles investidores mais sofisticados, que entendem para onde o mercado está indo e se posicionam antes”, completa o diretor, lembrando que os títulos de crédito estruturado estão oferecendo taxas similares ou maiores que no cenário pré-crise.